Muito
se tem falado no socialismo arquitetado por Chávez na Venezuela, ou melhor, no
‘socialismo bolivariano’, como o próprio tenente-coronel verbera aos borbotões.
Quiçá
pelas estatizações que levou a cabo ao longo de sua presidência, nacionalizando
importantes multinacionais, ou seja pelas declarações que fez contra Bush, o
baluarte do grande capital, ou até mesmo
pela popularidade que detém em seu país, Chávez possui muita simpatia por parte
da esquerda, mormente a tupiniquim, que ousa acreditar no tal do ‘socialismo do
século XXI’.
Que
fique claro que não estou aqui a criticar o que chamam de ‘chavismo’, que, de
fato, conquistou importantes vitórias em relação à política subserviente de
Pérez.
O
que quero dizer é que devemos ter cautela com o tão festejado socialismo
venezuelano.
A
popularidade de Chávez e sua posição anti-imperialista, embora sugiram governo
progressista, não são elementos necessariamente caracterizadores de uma economia
planificada, embora sejam boas alvíssaras, principalmente a segunda hipótese.
Com
relação às nacionalizações promovidas na Venezuela, pode se dizer a mesma
coisa. E é neste ponto que quero me deter, já que é o mais utilizado pelos
defensores do tal ‘socialismo do século XXI’.
A
história nos demonstra que estatizações não significam governos socialistas. Se
assim fosse, a ditadura militar brasileira possuiria elementos socialistas na
economia, já que estatizou multinacionais ligadas à infraestrutura econômica.
Em linhas gerais, uma
economia socialista pressupõe a expropriação dos meios de produção da classe
dominante, sua planificação e o monopólio estatal do comércio exterior, de modo
a gerar ruptura do domínio das grandes empresas privadas sobre a economia e seu
funcionamento com base no mercado, o que não depende exclusivamente da
nacionalização de algumas empresas, como aconteceu na Venezuela.
Tal
como está, o governo de Chávez mais se parece repeteco do que vimos na
Argentina de Perón ou no Peru de Alvarado: nacionalismo pequeno-burguês, porque
estatiza multinacionais, dando força ao sentimento patriótico, mas mantém a
lógica do mercado, mantendo a dominação de classe, sobretudo no plano
econômico.
Embora
sejam as nacionalizações importantes mudanças na infra estrutura econômica,
elas não levam inexoravelmente a uma ruptura com o sistema produtor de
mercadorias.
Aliás,
Marx e Engels, no Manifesto Comunista, já afirmavam a
posição do proletariado face à questão nacional, onde a burguesia detinha a
hegemonia do processo:
"Os trabalhadores não têm
pátria. Não podemos tomar deles aquilo que não possuem. Como o proletariado
pretende adquirir a supremacia política, tornar-se a classe dirigente da nação,
tornar-se a própria nação, é nesse sentido, ele mesmo nacional, embora não no
sentido burguês da palavra. As diferenciações e os antagonismos entre os povos
desaparecem dia a dia, devido ao desenvolvimento da burguesia, à liberdade de
comércio, ao mercado mundial, à uniformidade na forma de produção e às
condições de existência correspondente.”
E
mais, no caso específico da Venezuela ainda há a suspeita de que as
nacionalizações das empresas CANTV (telefonia) e EDC (eletricidade) não foram
‘expropriações’, como muita gente pensa, mas sim compra de ações que ocorreram
dentro dos limites da legalidade do capital. E tanto é assim que não assustaram
um dos principais organismos da economia globalizada, o Banco Mundial, cujo
presidente, à época, afirmou que as nacionalizações da Venezuela ‘foram bem realizadas’ e que não seriam ‘motivos para desconfiança’[1].
Mas
sem dúvida a experiência venezuelana é interessante, sobretudo porque o governo
de Chávez foi o primeiro na América Latina a fazer frente ao governo
norte-americano, desde os anos 90, e, ao que parece, ainda encontra ressonância
popular, embora analistas digam que a eleição presidencial de 2012 esteja
bastante paritária.
Vejamos os próximos passos do chavismo. Só espero que Bolívar não se revire do túmulo.
[1] No caso da
CANTV, diga-se que ela foi estatal até 1991, quando foi privatizada pelo então
presidente Pérez. Fora comprada pela norte americana Verizón Comunications, que após crise econômica aposentou grande
parte dos trabalhadores, que passaram para a inatividade com benefícios menores
do que o salário mínimo local, algo proibido pelas leis vigentes no país. Após
demandas judiciais, o governo da Venezuela assumiu o prejuízo social. Visando
reestruturação, as ações da empresa foram vendidas nas bolsas de valores
norte-americanas e arrematadas pela própria Venezuela, na ocasião sob a
presidência de Chávez.
Situação parecida ocorreu com
a EDC.
Devagar quase parando, caro HC... Atualiza isso aí. Aliás, Chávez toma posse ou não? Vejamos o que será da revolução bolivariana.
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